sábado, 3 de setembro de 2016

OPERÁRIAS - Carl Sandburg

OPERÁRIAS

As raparigas operárias que de madrugada vão para
     o trabalho, caminham em longas filas entre as
     lojas e as fábricas da cidade baixa. São milhares.
     Trazem debaixo do braço o almoço embrulhado
     em papel de jornal.
Todas as manhãs, quando me cruzo com este rio de
     jovens vidas femininas, pergunto a mim mesmo
     para onde vai ele, para onde vão faces aveludadas
     de juventude, risos de lábios róseos e recordações,
     nos olhos, das danças da noite anterior, de
     brincadeiras e passeatas.
Verdes e cinzentas correntes vão lado a lado no
     mesmo rio: também aqui há sempre as outras,
     as que já concluíram a vida, as que conhecem
     o fim do jogo que é a vida, o sentido que ela tem,
     o nó do problema, o como e o porquê das danças
     e dos dedos que lhes acariciaram os cabelos.
Passam caras e nelas está escrito: "Sei tudo, sei onde
     vão acabar a frescura e o riso. Tenho as minhas
     recordações", e caminham com pés mais
     vagarosos: mostram experiência em lugar da
     beleza que as outras ostentam.
Assim o verde e o cinzento correm misturados, de
     manhãzinha, pelas ruas da cidade baixa.

trad. Alexandre O'Neill
1878 - 1967

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