Rascunho de uma Epístola
Entre
sobas solertes e solenes
Aqui estou de poeta e de passagem.
Das 25 pombas deste Abril
As melhores levo em versos na bagagem.
E aqui as solto transidas e alertadas
Pelo hálito do medo que já volta
E cada uma delas é uma concha
Carregando uma pérola de revolta.
Aqui eu as desprendo contra a noite
Que já da liberdade os trevos pisa
E cada uma delas é um rio
Desfiando uma prata insubmissa.
Se o país que na esperança exercitámos
For um desvão de Abril apunhalado
Onde a vida reclama a plenitude
É que o poeta é febre é raiva é dardo.
É canto arterial é um centauro
Com uma flecha de música no flanco
É toda a luz na boca e a liberdade
É o mais certeiro tiro do seu canto.
Enquanto lira for de luz cantada
O poeta sem repouso no combate,
A luta não termina quando perde
A cor nos cravos que a escuridão abate.
Natália Correia
Poema
de Natália Correia (in "O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II",
Lisboa: Projornal/Círculo de Leitores, 1993 – p. 75-76; "Poesia
Completa", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999 – p. 406-407)Aqui estou de poeta e de passagem.
Das 25 pombas deste Abril
As melhores levo em versos na bagagem.
E aqui as solto transidas e alertadas
Pelo hálito do medo que já volta
E cada uma delas é uma concha
Carregando uma pérola de revolta.
Aqui eu as desprendo contra a noite
Que já da liberdade os trevos pisa
E cada uma delas é um rio
Desfiando uma prata insubmissa.
Se o país que na esperança exercitámos
For um desvão de Abril apunhalado
Onde a vida reclama a plenitude
É que o poeta é febre é raiva é dardo.
É canto arterial é um centauro
Com uma flecha de música no flanco
É toda a luz na boca e a liberdade
É o mais certeiro tiro do seu canto.
Enquanto lira for de luz cantada
O poeta sem repouso no combate,
A luta não termina quando perde
A cor nos cravos que a escuridão abate.
Natália Correia
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