quinta-feira, 29 de novembro de 2018

ANDEI MUITOS CAMINHOS - António Machado

ANDEI MUITOS CAMINHOS

Andei muitos caminhos,
abri muitas veredas;
Naveguei em cem mares,
e atraquei em cem ribeiras.

Em todas as partes vi
caravanas de tristeza,
soberbos e melancólicos
borrachos de sombra negra,

E pedantes por trás dos panos
que olham, calam, e pensam
que sabem, porque não bebem
o vinho das tabernas.

Diabólicas pessoas que caminham
e vai apestando a terra…

E em todas partes vi
pessoas que dançam ou jogam,
quando podem, e laboram
seus quatro palmos de terra.

Nunca, chegam a um lugar,
perguntam aonde chegam.
Quando caminham, cavalgam
nos lombos de mula velha,

E não conhecem a pressa
nem ainda nos dias de festa.
Onde há vinho, bebem vinho;
onde não há vinho, água fresca.

São boas gentes que vivem,
laboram, passam e sonham,
e em um dia como tantos,
descansam debaixo da terra.

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