A MULHER DE VERMELHO
“Rasgam-se as cortinas e sob o foco a Mulher
Esguia como o tempo liberto como o punho
Erguido ao céu da praça cheia e às canções!
Maiakovski grita em métricas guturais
“Abram alas
ao futuro que perpassa nas dobras
Do
manto vermelho!...”
A Mulher inclina-se em dignidade soberba
Segura nas mãos a flor dos dias e nos olhos
O fervor prenhe de lonjura e de distância
E a palavra ousada nos lábios escarlate
Como a túnica...
Em baixo uma criança negra soletra liberdade
Nas pétalas desfolhadas do cravo rubro
Que a mãe lhe dera com o leite...
E o pai sorri com os imaculados dentes
Da fome! Com o grito! Com a guerra!
E ergue o punho à mulher de vermelho
Que o acolhe no seu seio de cristal...
E o devolve ao Povo acumulado na praça
Num gesto de febre
E luta...
Viva a Liberdade!”
Manuel Veiga
POEMAS CATIVOS
Poética
Edições – Lisboa 2014
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