quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

MONÓLOGO DO RELÓGIO - João Teixeira de Medeiros

MONÓLOGO DO RELÓGIO

Não há no meu tic tac
Vislumbres, hipocrisia
Cada tic traz um tac
Cada tac uma agonia

Tudo a tempo se renova
Nos movimentos que exerço.
Cada tic abre uma cova
Cada tac traz um berço.

Num tic nasce uma mágoa
Num tac morre um prazer.
Cada tic é gota de água
Sobre uma face a correr.

Por cada tic agitado
Por cada tac abatido
Há sempre mais um pecado
a nascer e a ser vivido.

Tic tac é a minha lida
Tic tac é a minha sorte.
Num tic mete-se a vida
Num tac se encontra a morte.

Com tão cruel tic tac
Com tão funesta medida
Vou roubando ao almanaque
Todos os anos da vida.

Vou medindo em horas cheias
O tempo que não tem fim.
Tenho o coração e as veias
Do tempo dentro de mim.

E nesta pressa ruim
De mágoas e de agonias
Chegam sempre ao triste fim
Vidas, minutos e dias.


João Teixeira de Medeiros

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