I Soneto da loucura
A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.
Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.
Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,
torto endireitando, herói de seda e ferro,
E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá nas alturas.
Cândido Portinari pintou, em 1956, uma série de 21 gravuras, focalizando dois personagens da literatura universal: Dom Quixote e Sancho Pança, da obra "Dom Quixote" de Miguel de Cervantes.
Carlos Drummond de Andrade, em 1972, escreveu um livreto com 21 poemas, referente às gravuras do amigo pintor. Publicou-o com o título "Quixote e Sancho, de Portinari" em "As Impurezas do Branco" de 1973.
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