segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Natal e os Jesus de todos os dias

Natal e os Jesus de todos os dias

«Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...»
*

Augusto Gil

 

São refugiados, Meninos Jesus que o imperialismo diariamente fabrica, meninos menos meninos que o outro tão venerado, talvez Maria, a mãe deste meu Jesus, de olhos postos no infinito perscruta o milagre que a liberte da guerra provocada pela ganância desse super-Herodes hoje denominado neoliberalismo.

*Nos manuais escolares fascistas, esta quadra do poema de Augusto Gil foi amputada do original.

 

Natal

Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado

De ser Deus e menino.

Em Deus não acredito.

Mas de ti como posso duvidar?

Todos os dias nascem

Meninos pobres em currais de gado.

Crianças que são ânsias alargadas

De horizontes pequenos.

Humanas alvoradas...

A divindade é o menos.

 

Miguel Torga

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