POEMA DE UM ANO
Já nada invento. Povo na língua
alguns sabores em que acreditei. Na
metade da garganta esta palavra
saudei. Vieram búzios e cravos da
distante solidão em que viajava
a dor que hoje espanta. Se dormia,
a quem alugava o sono? Vermelha,
a pausa canta. E, nesta simetria,
esqueço a abelha mestra (que a
escrava sofre seu dono para
viva lutar). De resistir ela foi feita
e a festa é neste lado que está.
Não posso esquecer o ódio, a fúria.
Aqui não morre a angústia
por dizer. Ergo subtil a nossa calma.
Vamos roer em abril a primavera.
Camponês, a força é a tua lua,
perto. Operário, a alma é a arma
que não espera. No deserto e na raiva
a tua mão é a pedra da vitória.
Grave, o silêncio morreu se agora
a memória for o charco – e o dia
o junco. Divide com a paz e a lâmina
a geometria inerte da terra.
Breve, a pátria é o teu idioma,
flor sem guerra, ar sem gás – e a chama
a rosa. Domina com o braço e a régua
a área da nave, o âmbito da máquina.
Já nada invento. Em abril quem ama
canta quem no vento caiba.
E saiba o rio, a pedra, o fogo, a palavra,
que nesta louvação louvo meu povo.
Abril de 1974
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