Paisagem
No fundo
além da fortaleza
sonhadora,
das acácias em
flor,
da cidade espalhada em
colinas,
da cascata de vidros
nas encostas,
do voo disparado daqueles patos
e do calor de tua mão,
no fundo,
feito paisagem
indiferente,
o ruído do mar.
Monótono, constante,
distraído,
marcando-me o compasso ao pensamento.
E o pôr-do-sol, as nuvens cor de fogo,
a cinza abrasada, um
dongo na baía,
a fortaleza debruçada, além,
como quem
espreita para
além do mar...
Toda a beleza
cálida me
fere,
só porque
o mar,
monótono, indiferente,
repete aquelas frases, cáusticas, brutais,
que eu
trouxe no meu peito
com vinte anos
os versos de combate,
o meu
olhar altivo,
as horas de visão
e os passos muito
incertos e tão fortes
que eu
sentia no rumo do futuro.
Há uma sombra no céu
e uma névoa nos
meus olhos.
As janelas apagam-se em penumbra,
o dongo atravessou a água mansa
e a tua mão aquece a minha mão.
E a tua mão aquece a minha mão.
Crispas os dedos, sentes esta angústia:
a beleza completa-se com
dor.
Ao fundo, o mar,
o mar que
nos embala
e nos conforta,
o mar...
Ó meu amor,
e diz,
eu ouço, ele
diz,
que a alma
não está gasta,
a ânsia não
está morta,
se os olhos são
capazes de chorar!
Cochat Osório
(No reino de Caliban II - antologia
panorâmica de poesia africana
de ex-
pressão portuguesa)
1 comentário:
Voei sem asas. Obrigada.
Obrigada Dr. Ernesto Cochat Osório.
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