Nós
poetas
Dizemos
Povo, cantamos Povo
sem que as
nossas vozes edifiquem
por vezes as
traves da palavra
as sibilinas
trevas do seu som.
A que pedra
arrancámos a sua abóbada
de mãos
erguidas e crispados gritos?
Em que mesa
compartilhámos a sua fome,
em que dorso
sofremos o seu cansaço
e em que
lenço enxugámos o seu suor?
Em que rosto
chorámos as suas lágrimas,
em que peito
albergámos a sua dor?
Ah
companheiros de ofício, nem sempre
ou quase
nunca o Povo dos poemas
é aquele que
transcorre pelas paisagens
em que
habita o desespero e espera a morte.
Bandeira
será florindo o nosso verso,
mas povo no
poema é coisa rara
que em rosa
não cabe a sua sorte.
(A Poesia
Deve Ser Feita Por Todos, Lisboa, 1970)
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