sexta-feira, 3 de maio de 2013

António Gedeão - Dez reis de esperança

Dez reis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a
um canto,
no
mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o
que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo
adolescente,
a
chuva das penas brancas
a
cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da
vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos
homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e
não perceberam,
essas
máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no
pranto do desencanto,
se
não fosse a fome e a sede
dessa
humanidade exangue,
roía as
unhas e os dedos
até os fazer em sangue

António Gedeão

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

"Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,"