terça-feira, 14 de maio de 2013

Reservado ao Veneno - Antóno José Forte


Reservado ao Veneno

Hoje é um dia reservado ao veneno
e às pequeninas
coisas
teias de aranha filigranas de cólera
restos de pulmão onde corre o marfim
é
um dia perfeitamente para cães
alguém deu à manivela para nascer o sol
circular o mau hálito esta cinza nos olhos
alguém que não percebia nada de comércio
lançou no
mercado esta ferrugem
hoje não é a mesma coisa
que um búzio para ouvir o coração
não é um dia no seu eixo
não é para pessoas
é
um dia ao nível do verniz e dos punhais
e esta
noite
uma
cratera para boémios
não é uma pátria
não é esta noite que é uma pátria
é
um dia a mais ou a menos na alma
como chumbo derretido na garganta
um peixe nos ouvidos
uma
zona de lava
hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo
com sirenes ao crepúsculo
a trezentos
anos do amor a trezentos da morte
a
outro dia como este do asfalto e do sangue
hoje não é um dia para fazer a barba
não é um dia para homens
não é para palavras
Antóno José Forte
Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda


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