sábado, 26 de dezembro de 2015

NATAL - José Luandino Vieira

NATAL

Branca roupa ao sol
Pirrulas na mulemba
cantam chuva.

Não há estrela-guia
sol-caju brilhando
pelos caminhos antigos
pés gretados batidos
vem todos.
... vovo Bartolomé enlanguescido
em carcomida cadeira acordado...

... sô Santo
subindo a calçada
a mesma calçada que outrora descia...

... Zito e Dimingas
no maximbombo da linha 4...

... Musunda amigo
         com a firme vitória da sua alegria...

E vê
vêm também
cheirando a suor
as buganvílias
a den den

Pedro monangamba
olhos abertos de amor
na mão e cetro
a pá de trabalhador

Pascoal
(Ué ainda vivo velho Pascoal?!)
a vassoura de mateba
a farda cáqui
da Câmara Municipal.

De Calumbo
o sol do Cuanza

nos seios caju
docinha manga
trouxe Jana.

Vieram também
também vieram
algas verdes na garganta
os três magos da Ilha
– ngoma, reco-reco e violão!  

Branca roupa ao sol
Pirrulas na mulemba
Não havia luar
porque a noite já não era
estrela-guia
e do ventre da mãe negra
o menino nascia.

 José Luandino Vieira
(1960)



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