segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Exílio - Casimiro de Brito

Exílio
Berlim, 1969

Quando eu nasci plantava Brecht
No silêncio do exílio um castanheiro
Ao canto do pátio. O medo – crisálida
Seca – instalava se
No rosto anónimo
Dos meus contemporâneos. Cesare Pavese
Preparava minuciosamente
O seu suicídio. O velho continente
Apodrecia
Ao som cavo da guerra. Apodrece. A Causa
Comum: em prisões, fábricas medievais, cinza
Clandestina. José
Gomes Ferreira (Quixote sem lança de Portugal)
Fazia quantos anos sou agora: e cantava
Em noites de insónia insubmissa (…)
As lágrimas dos outros (…), a solidão quente
Como a camaradagem do vinho!
Dentro
Da noite lusitana

Desenvolve-se o comércio de músculos / praias / minas
Coloniais……………………………….No ano anterior
Federico havia sido assassinado
Em Granada; ouvia se ainda o seu canto / pranto
Por Ignazio Sánchez Mejías: Lo demás era muerte
Y solo muerte

A las cinco de la tarde. Vendiam se a pataco
As últimas dignidades. Contemplava se
O derramar do sangue
Em guerras imperiais: ontem, hoje…………Pouco,
Muito pouco se aprende
Com a morte dos poetas: o exílio / a complacência
Dos poetas. Outras mortes mais austeras

(A cólera amadurece)
Varrem este mundo velho. Ah mas a memória
E o canto
Permanecem no pó dessas mortes

Silenciosas………………………………………………………..…



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