Revolução é uma palavra
muscular
Não contem os dias caros
senhores.
Há coisas mais urgentes
do que embalar o tempo em plástico
alveolar. É por aí que as
horas fogem à palavra já,
esta palavra urgente até
ao ínfimo segundo. Cada bolha
seria um ano mais de
ditadura. Não vos dói o coração dos outros?
A boca parada da vida
obriga-me a palavras como já e nunca mais.
São palavras de andar,
têm um corpo muscular de sim,
músculos de acelerar a
revolução enquanto os caros senhores
olham as canetas azuis
com que se mata a literatura em nome
de qualquer coisa que não
é decerto um livro que julgávamos
irremediavelmente
publicado. Caros senhores, com abril a revolução
não teve um fim, teve um
início que já tinha começado
antes de estiar as nossas
vidas.
Não contem dias inúteis. A
matemática habita o já
e a liberdade pode
perigar no dedo mindinho, ou num capilar
de desatenção. A palavra do
agora-sempre é revolução.
A palavra do aqui é já,
um já modelado com alteres,
e ainda assim minúsculo
para tanto exercício cardiovascular
sem necessidade de
aquecimento.
A letra “J” é uma coluna
que marcha à procura da letra “à”
e encontram-se numa fonte
de cravos onde as gentes
bebem à porta da cidade
morena, atravessada a noite
das prisões. Mas há
sempre uma mão alheia a trabalhar na sombra
e melhor do que contarem
as horas é vigiarmos nós o sol
para que nasçam sempre
cravos, sempre o vermelho insanguíneo
da liberdade. A revolução
é a única melodia do amanhecer.
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