UM PENSAMENTO ME PERTURBA
Um Pensamento me perturba e faz sofrer:
Na cama entre lençóis morrer!
Lentamente, como flor murchando,
Em si dentro secreto insecto ruminando;
Lentamente minha vida como vela a encurtar
Num canto de quarto vazio morrendo a se
apagar!…
Deus, Deus meu, não me deis tal morte!
Não! meu Deus, não tal morte!
Faz-me como árvore pelo raio fulminada
Ou, no temporal, pelos ventos
desenraizada…
Ou rocha que terramoto dos altos faz rolar
Tremendo céus e terra pelo seu caminhar… –
Quando todo o escravizado povo, seu jugo
odiando
Se vai do combate aos campos lançando,
Os rostos, quais rubras bandeiras, já enrubescidos,
E em tais pendões os gritos de combate
escritos.
“O mundo libertar!” –
Tal grito a ressoar
De leste a oeste trovejando,
E contra o povo a tirania esbravejando –
Lá quero tombar, lá!
No campo de batalha, lá!
Lá, do meu coração que jorre o sangue
E as últimas palavras brotem de minha boca
exangue:
Lá, engolidas elas sejam pelo aço a
tilintar,
Pelo som das trombetas, canhões a troar
Lá, meu mortal corpo atravessando,
Corcéis passem relinchando,
Pela final vitória lograda ficando
Espezinhado, lá, meus ossos espalhados:
Se hão-de vir os funerais esperados,
Músicas lentas e solenes entoadas
Drapejando as bandeiras enlutadas –
E, heróis, da vala comum irão ao fundo
Mortos por ti, do mundo Santa liberdade!
(Pest, Dezembro 1846)
(traduzido por José Blanc de Portugal)
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