A VOSSA
RUDE BÊNÇÃO
Quem foi que disse que
os poetas são
pálidos
reis sem
trono? Quem
foi que disse que
os versos se compõem com luar e estrelas
de mãos desocupadas impotentes?
Há poetas
que esgravatam seus versos nos caixotes do
lixo
nas vazias ruas das madrugadas antes que os cães
acordem a disputar a presa
há também os que
os talham à faca em
corno ou osso ou casca de árvore
ou cana
de canavial
e há os que os fazem
de barro
ou pedra
ou água
de lágrimas cuspo ou ranho
da baba subtil do sonho
Quem foi que disse
que as palavras não
ferem?
Então os dedos
Os dentes as unhas
a língua para
que servem
senão para
talhar seu fogo em lâminas?
Marinheiro dos rumos tresnoitados
guarda-nocturno das gatas aluadas
limpa-chaminés das alvoradas
sem nada com as estrelas
a balbuciar
de frio
cavador de ervas
maninhas
filhas de pai incógnito ordenhador
das cabras mais
bravias pastor da fome
de gados emigrantes
velho
carreiro
a abalar de madrugada
o bafo das bestas
a sulcar o frio
a estrela
da manhã
um copo
de aguardente
barqueiro do meu rio
de antigamente contrabandista
da raia
nu a nado
a vossa rude
bênção
meus padrinhos!
Teresa Rita
Lopes
1 comentário:
Belíssimo
Sopro-te e voo
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