I
Em Cerromaior nasci.
Depois, quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois, tomei os caminhos
que havia e mais outros que
depois desses eu sabia.
E tanto já me afastei
dos caminhos que fizeram,
que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
caminhos que só eu sei.
II
Veio a guarda com a lei
no cano das carabinas.
Cercaram-me num montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminho feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor.
III
Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
– as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados;
– mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.
– Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!
IV
…E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.
Inanimado,
tombei por fim a um canto.
E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada!…
Manuel da Fonseca
1 comentário:
Caros leitores,
convidamos-vos a ler o capítulo 2 do nosso conto escrito a várias mãos "Ecos de Mentes", que esta semana nos chegou pela mão da Luísa Vaz Tavares, interpretando Gabriel.
Sempre com o mesmo carinho por vós
saudações literárias!
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