Abril
Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.
Era Abril
que descia aos tropeções
pelas ladeiras da cidade.
Abril
tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.
Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um mês.
Havia barcos
a voltar
de parte
nenhuma
em Abril
e homens que
escavavam a terra
em busca da
vertical.
Ardiam as
palavras
Nesse mês
e foram
vistos
dicionários
a voar
e mulheres
que se despiam abraçando
a pele das
oliveiras.
Era Abril
que veio e que partiu.
Abril
a deixar
sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos
meninos por haver.
Lisboa,
Portugal
(Do livro
ainda inédito "Tempo azul")
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