terça-feira, 2 de abril de 2019

TEMPO REBELADO - Tempo clandestino José-Augusto de Carvalho



Para todos aqueles que se deram na luta contra o fascismo 

no rigor da clandestinidade


As ruelas de terra batida

ocultaram a minha partida.



O negrume da noite tragou-me

numa cúmplice fuga.

Uma sombra furtiva e sem nome

que do rosto uma lágrima enxuga.



Em redor, o silêncio pesado

dos malteses do medo e do espanto

e os rafeiros rosnando ao cajado

que à distância mantém o levanto.



Chego, enfim, à estrada deserta.

Doravante, o caminho é obscuro.

E assim vou, de sentid­os alerta…

E assim vou esventrando o futuro…


José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 18 de Março de 1997.

Nasceu em Viana do Alentejo a 20 de Julho de 1937 onde reside; tem vasta obra poética publicada: “arestas vivas”, 1980, “sortilégio”, 1986, “tempos do verbo”, 1990, “vivo e desnudo”, 1996, “Nós Poesia…” (em parceria com Lisete Abrahão), 2002 e “instante nudez”, 2005. Sob chancela da edium editores publicou em 2008 o título “Da Humana Condição” e como co-autor na “II Antologia Amante das Leituras”, 2008. Está a traduzir para esta chancela “Por terras de Portugal e Espanha” da Miguel de Unamuno e “Selecta Poética” de António Machado.


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