«A política é para eles uma promoção e para mim uma
aflição. E não há entendimento possível entre nós, apesar do meu esforço.
Separa-nos um fosso da largura da verdade. Radicalmente insinceros, nenhum
pudor os inibe. Mentem com tal convicção que se enganam a si próprios, e acabam
por acreditar que são o que fingem ser. Levam-se a sério no papel de homens
providenciais que dão ordem à desordem, virtude ao vício, luz à escuridão. Que
outorgam a liberdade apenas a nomeá-la do alto das tribunas. E nem sequer
consigo fazê-los compreender que representam sem originalidade uma farsa velha
como os tempos, e que os aplausos que recebem já outros os receberam,
igualmente inconsequentes e requentados. Narcisos numa sala de espelhos,
confirmam-se em cada imagem multiplicada. A circunstância não os circunstancia.
Pelo contrário. Vaticina-lhes a duração. O efémero é um anátema dos outros.
Vêem na presença actual do nome nos jornais a garantia da perpetuação nos anais
da História.»
Miguel
Torga, in Diário XIII
Coimbra, 1 de Março de 1979
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