domingo, 13 de outubro de 2019

Vamos, pátria, caminhemos - Otto René Castillo

Vamos, pátria, caminhemos

Vamos, pátria, caminhemos, eu te acompanho.

Descerei aos abismos que me indiques.
Beberei teus cálices amargos.
Ficarei cego para que tenhas olhos.
Ficarei sem voz para que cantes.
Hei-de morrer para que não morras,
para que o teu rosto emerja flamejante no horizonte
de cada flor que nasça dos meus ossos.

Tem que ser assim, é indiscutível.

me cansei de comigo levar as tuas lágrimas.
Agora quero caminhar contigo, relampejante.
Acompanhar-te no teu caminho, porque sou um homem
do povo, nascido em Outubro para a face do mundo.

Ai, pátria.
Aos coronéis que mijam os teus muros
temos que os arrancar pela raiz,
pendura-los numa árvore coberta de geada,
com a ira do povo.
Por ele peço que caminhemos juntos. Sempre
com os camponeses
e os operários,
Com quem tenha um coração para querer-te.

Vamos, pátria, caminhemos, eu te acompanho.



Vámonos patria a caminar

Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.

Yo bajaré los abismos que me digas.
Yo beberé tus cálices amargos.
Yo me quedaré ciego para que tengas ojos.
Yo me quedaré sin voz para que tú cantes.
Yo he de morir para que tú no mueras,
para que emerja tu rostro flameando al horizonte
de cada flor que nazca de mis huesos.

Tiene que ser así, indiscutiblemente.

Ya me cansé de llevar tus lágrimas conmigo.
Ahora quiero caminar contigo, relampagueante.
Acompañarte en tu jornada, porque soy un hombre
del pueblo, nacido en octubre para la faz del mundo.

Ay, patria,
a los coroneles que orinan tus muros
tenemos que arrancarlos de raíces,
colgarlos en un árbol de rocío agudo,
violento de cólera del pueblo.
Por ello pido que caminemos juntos. Siempre
con los campesinos agrarios
y los obreros sindicales,
con el que tenga un corazón para quererte.

Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.



O suplício e a morte
Otto René Castillo foi levado para uma base militar na cidade de Zacapa
e ali barbaramente torturado e mutilado. Como manteve heroicamente o
silêncio sem entregar qualquer informação sobre os quadros da organização,
um capitão do exército, enquanto recitava debochadamente os versos do seu
poema Vámonos pátria a caminar, ia cortando seu rosto com uma lâmina de
barbear. Diante de seu silêncio, passaram a queimá-los vivos – o poeta e Nora,
seu amor – entre os dias 19 a 23 de março, martirizados num lento suplício,
inenarrável na expressão humana. O poeta e ensaísta salvadorenho Roque
Dalton descreveu com as seguintes palavras os últimos momentos de seu
camarada: “Seus próprios verdugos testemunharam sua coerência e sua
coragem ante o inimigo, à tortura e à morte: morreu como um inquebrantável lutador revolucionário, sem ceder um milímetro no interrogatório, reafirmando seus princípios embasados no marxismo-leninismo, em seu fervente patriotismo guatemalteco e internacional, em seu convencimento de estar seguindo – por sobre todos os riscos e derrotas temporais – o único caminho verdadeiramente
libertário para nossos povos, o caminho da luta armada popular.”


Sem comentários: