quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

A Rosa do Povo

 

E colocamos os dados

de um mundo sem classe e imposto;

e nesse mundo instalamos

os nossos irmãos vingados.

O amor, então, se concretiza:

E nessa fase gloriosa,

de contradições extintas,

eu e Fulana, abrasados,

queremos… que mais queremos!

Porém, todo o ardor dos amantes, toda a exaltação entusiástica
do desejo, toda a ânsia pelo outro convertem-se, após a consecução
afetivo-erótica, em outra coisa:

E digo a Fulana: Amiga,

afinal nos compreendemos.

Já não sofro, já não brilhas,

mas somos a mesma coisa.

(Uma coisa tão diversa

da que pensava que fôssemos.)

 

Carlos Drummond de Andrade

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