sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Descida aos Infernos - Carlos de Oliveira

 

Descida aos Infernos

 

E embora
o teu ódio me degrede
a este inferno,
e me condene
a séculos de sede,
também te acuso, terra:

de sendo fogo
os não queimares,
de tendo vento
os não levares,
de trazeres sobre o dorso
o horror dos mares
onde eles se não somem;


de não soltares
a besta vingadora
no nosso orgulho de homens.

 

No entanto, a Seara Nova iludira a censura e mantivera a segunda quadra, discretamente reproduzida no entrelinhado da partitura musical, onde podiam ler-se, além da primeira estrofe, os versos censurados da estrofe seguinte:

 

O vento da nossa fúria

queime as searas roubadas;

e na noite dos ladrões

haja frio, morte e espadas.

 

Carlos de Oliveira

1 comentário:

Janita disse...

Não poder dar voz livre e solta à criatividade poética, isso sim, seria uma dolorosa descida aos infernos...
Gostei de conhecer o poema, o autor já eu conhecia.
Obrigada, bom fim de semana.