quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Não há vagas - poema de Ferreira Gullar

Não Há Vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.

O preço do arroz
não cabe no poema.


Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira

 

Ferreira Gullar

 

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