quinta-feira, 15 de agosto de 2024

"O mundo que te ofereço, amiga" - Jorge Rebelo

Entrevista - Jorge Rebelo

"O mundo que te ofereço, amiga"

O mundo que te ofereço, amiga,
tem a beleza de um sonho construído.

Aqui os homens são crentes -
não em deuses e outras coisas sem sentido
mas em verdades puras e belas,
tão belas e tão universais,
que eles aceitam
morrer
para que elas vivam.

É esta crença, são estas verdades
que tenho
para te ofertar.

Aqui a ternura não nasce
nas alcovas.
É uma ternura rude, violenta, amarga
nascida na dureza áspera da luta
em caminhadas longas
em dias de espera.

É esta ternura rude e amarga
que tenho
para te ofertar.

Aqui não crescem rosas coloridas.
O peso das botas apagou as flores pelos caminhos.
Aqui cresce milho, mandioca
que o esforço dos homens fez nascer
na previsão da fome.

É esta ausência de rosas,
este esforço, esta fome
que tenho
para te ofertar.

Aqui as crianças não envelhecem,
o seu riso é eterno,
brincam com o sol, com o vento,
com a chuva e os gafanhotos,
com espingardas verdadeiras,
com pedaços de granadas.

É este riso eterno de criança, este sol,
estas espingardas verdadeiras
(com as quais também brinquei)
que eu tenho
para te ofertar.

O mundo em que combato
tem a beleza de um sonho construído.

É este combate, amiga, este sonho
que tenho
para te ofertar.

Jorge Rebelo

(Este poema foi escrito durante a guerra de libertação.)

 

1 comentário:

Antônio Lídio Gomes disse...

maravilhoso poema, que escrito com alma inspirada, me remete ao mundo descrito por ti. abraços. venha conhecer o Vozes de Minha Alma e seja bem vindo.