terça-feira, 17 de setembro de 2024

NOVO SERMÃO NEGRO - Jacques Romain

 

NOVO SERMÃO NEGRO

A Tristan Rémy

Eles cuspiram em Sua face seu desprezo frio

Como uma bandeira negra flutua ao vento abatida pela neve

Para fazer dele o pobre negro o deus dos poderosos

De seus trapos ornamentos de altar

De seu doce canto de miséria

De seu lamento trémulo de banjo

O tumulto orgulhoso da tempestade

De seus braços que rebocavam pesados barcos

no rio Jordão

A arma dos que lutam pela espada

De seu corpo prostrado como o nosso nas plantações de algodão

Tal um carvão ardente

Tal um carvão ardente em um arbusto de rosas brancas

O escudo dourado de sua fortuna

Eles branquearam Sua Face negra sob a saliva de seu desprezo frio

Eles cuspiram em Tua Face negra

Senhor, nosso amigo, nosso camarada

Tu que separaste do rosto da prostituta

Como um manto de geada seus longos cabelos

de sobre a fonte de suas lágrimas

Eles fizeram

Os ricos fariseus os latifundiários os banqueiros

Eles fizeram do Homem sangrando o deus sangrento

Oh Judas ri

Oh Judas ri:

Cristo entre dois ladrões como uma chama rasgada

no topo do mundo

Clareava a revolta dos escravos

Mas Cristo hoje está na casa dos ladrões

E seus braços se abrem nas catedrais a sombra estendida

do abutre

E nas cavernas dos monastérios o padre conta os

lucros dos trinta últimos

E os sinos das igrejas cospem a morte sobre as

multidões famintas

Nós não os perdoaremos pois eles sabem o

que fazem

Eles lincharam John que organizava o sindicato

Eles o caçaram como um lobo feroz com cães

através do bosque

Eles o penderam rindo ao tronco do velho sicômoro

Não, irmãos, camaradas

Não rezaremos mais

Nossa revolta se eleva como o grito do pássaro de tempestade

acima do salpicar podre dos mangues

Nós não cantaremos mais os tristes spirituals desesperados

Um outro canto surge de nossas gargantas

Nós defraudamos nossas bandeiras vermelhas

Manchadas do sangue de nossos justos

Sob este sinal nós marcharemos

Sob este sinal nós marchamos

De pé malditos da terra

De pé escravos da fome.

Jacques Romain

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