terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

CORAÇÃO - Carlos de Oliveira

CORAÇÃO

1

Tosca e rude poesia:

meus versos plebeus

são corações fechados,

trágico peso de palavras

como um descer da noite

aos descampados.

 

Ó noite ocidental,

que outra voz nos consente

a solidão?

Cingidos de desprezo,

somos os humilhados

cristos desta paixão.

 

E quanto mais nos gelar a frialdade

dos teus inúteis astros,

mortos de marfim,

mais e mais, génio do povo,

cantarás em mim.

 

Carlos de Oliveira

(de “Mãe Pobre”, 1945)

 

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