segunda-feira, 2 de março de 2020

LUTA DE CLASSES - MILLÔR FERNANDES

LUTA DE CLASSES

Estava o rei lavando os pratos
Depois de enxugar os garfos.
A rainha dava tratos aos móveis
Vasculhava a sala, a copa e o salão
Deixando aos principezinhos a tarefa
De encerar o chão
Enquanto a criada na varanda
Deitada numa rede de fina contextura
Lia um livro de aventura
Quando entrou um rei vizinho
De um reinado bem maior
E bem baixinho, bem baixinho
Ofereceu à criada
Um emprego melhor.

1/1/1949


3 comentários:

Janita disse...

Só mesmo Millôr Fernandes sabia satirizar a sociedade deixando-nos a sorrir, de bem com burgueses e operários!
Que tal trazer aqui, um dia, o Poema Matemático? :)

Boa semana!

cid simoes disse...

Janita: https://voarforadaasa.blogspot.com/2017/10/poesia-matematica-millor-fernandes.html

Janita disse...

Fui lá ler e relembrar. Obrigada.

«E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
chamado amoroso...»

Quando se forma um triângulo, fica tudo estragado! :)

Não me canso de ler este poema incrível.

Sabe que já o seguia há imenso tempo e depois perdi-lhe o rasto?
Aconteceu numa 'visita guiada' pelo Rogério Pereira do 'Conversa Avinagrada', ao «Sítio dos Desenhos».

Boa noite.