domingo, 4 de outubro de 2020

Água do cais - Tálata Rodríguez

Água do cais

 

Ao enterro do estivador

não foi ninguém.

Ficou sem conhecer o mar,

nunca quis

navegar embarcado

porque preferia estar em terra,

carregando e descarregando

o que estivesse à mão.

Havia barcos que não sabia

nem de onde vinham

nem para onde iam.

Aconteceu-lhe uma vez

esvaziar uns contentores

amolgados por um tufão.

Encontrou restos de sangue

entre os volumes que levava.

Em alturas de pouco trabalho

vestia com esmero

cuidando em não ser elegante

para que assim,

o vissem

entre a turba de homens

perfumados pela fome.

Passaram dias

ou semanas,

sem que o chamassem

mas ia sempre ao porto,

se lá não estivesse

Onde poderia estar?

Essas aves que viu,

esse presidente comunista

que o saudou apertando-lhe a mão,

as mulheres por que passou...

No seu coração

todos eram iguais

e estavam igualmente longe

como essas aves que via

afastando-se irreversíveis

O sol no horizonte

apaga-se um pouco,

já é quase noite.

Uma gaivota

Equilibra-se

no mastro do um navio

que devia ter descarregado.

Estivador que estiva

acomodando os seus problemas!

Agora que estás na terra

Já não te preocupas com o mar,

o teu caixão é um barco varado

coberto na sua sepultura

com cimento e azulejos

onde fará uma grande viagem

e o vento enfolará

para sempre

as velas das tuas veias.

 

Tálata Rodríguez

 

 

 

Agua de puerto

Al entierro del estibador 
no fue nadie.
Se quedó sin conocer el mar,
nunca quiso 
navegar embarcado
porque prefería estar en tierra,
cargando y descargando
lo que tuviera a mano
Habia barcos que no sabía
ni de dónde venían
ni hacía dónde iban.
Le tocó una vez
vaciar unos contenedores
abollados por un tifón
Encontró restos de sangre
entre los bultos que llevaba
En temporadas de poco trabajo
vestía prolijamente 
cuidándose de no ser elegante
para que así,
lo eligieran
entre las turbas de hombres
perfumados por el hambre.
Días pasaban
o semanas,
sin que lo señalaran
pero él igual iba al puerto,
si no estaba ahí
¿adónde habría estado?
Esas aves que vió,
ese presidente comunista
que lo saludó apretándole la mano,
esas mujeres por las que pasó…
En su corazón 
todos eran iguales
y estaban igual de lejos
que esas naves que veía
alejándose irreversibles
El sol en el horizonte 
se apaga un poco,
ya es casi de noche.
Una gaviota tuerta
hace equilibrio 
en el mástil de un navío
que hubieras tenido que descargar.
¡Estibador que estiba 
acomodando sus problemas!
Ahora que estás en la tierra
ya no te procupes por el mar,
tu ataúd es un barco varado
cubierto en su sepultura
por cemento y azulejos
en él, harás un gran viaje
y el viento azotará
por siempre 
las velas de tus venas.


 

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