Água do cais
Ao enterro do estivador
não foi ninguém.
Ficou sem conhecer o mar,
nunca quis
navegar embarcado
porque preferia estar em terra,
carregando e descarregando
o que estivesse à mão.
Havia barcos que não sabia
nem de onde vinham
nem para onde iam.
Aconteceu-lhe uma vez
esvaziar uns contentores
amolgados por um tufão.
Encontrou restos de sangue
entre os volumes que levava.
Em alturas de pouco trabalho
vestia com esmero
cuidando em não ser elegante
para que assim,
o vissem
entre a turba de homens
perfumados pela fome.
Passaram dias
ou semanas,
sem que o chamassem
mas ia sempre ao porto,
se lá não estivesse
Onde poderia estar?
Essas aves que viu,
esse presidente comunista
que o saudou apertando-lhe a mão,
as mulheres por que passou...
No seu coração
todos eram iguais
e estavam igualmente longe
como essas aves que via
afastando-se irreversíveis
O sol no horizonte
apaga-se um pouco,
já é quase noite.
Uma gaivota
Equilibra-se
no mastro do um navio
que devia ter descarregado.
Estivador que estiva
acomodando os seus problemas!
Agora que estás na terra
Já não te preocupas com o mar,
o teu caixão é um barco varado
coberto na sua sepultura
com cimento e azulejos
onde fará uma grande viagem
e o vento enfolará
para sempre
as velas das tuas veias.
Agua de puerto
Al entierro del estibador
no fue nadie.
Se quedó sin conocer el mar,
nunca quiso
navegar embarcado
porque prefería estar en tierra,
cargando y descargando
lo que tuviera a mano
Habia barcos que no sabía
ni de dónde venían
ni hacía dónde iban.
Le tocó una vez
vaciar unos contenedores
abollados por un tifón
Encontró restos de sangre
entre los bultos que llevaba
En temporadas de poco trabajo
vestía prolijamente
cuidándose de no ser elegante
para que así,
lo eligieran
entre las turbas de hombres
perfumados por el hambre.
Días pasaban
o semanas,
sin que lo señalaran
pero él igual iba al puerto,
si no estaba ahí
¿adónde habría estado?
Esas aves que vió,
ese presidente comunista
que lo saludó apretándole la mano,
esas mujeres por las que pasó…
En su corazón
todos eran iguales
y estaban igual de lejos
que esas naves que veía
alejándose irreversibles
El sol en el horizonte
se apaga un poco,
ya es casi de noche.
Una gaviota tuerta
hace equilibrio
en el mástil de un navío
que hubieras tenido que descargar.
¡Estibador que estiba
acomodando sus problemas!
Ahora que estás en la tierra
ya no te procupes por el mar,
tu ataúd es un barco varado
cubierto en su sepultura
por cemento y azulejos
en él, harás un gran viaje
y el viento azotará
por siempre
las velas de tus venas.
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