terça-feira, 9 de janeiro de 2024

A Palestina segundo Heródoto - André Luís Alves

A Palestina segundo Heródoto

 Falta-nos a permissão para narrar.

Edward W. Said

 O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Elie Wiesel

A Palestina segundo Heródoto

I

Jerusalém

 

Um autista é um homem livre,

livre num certo firmamento de jaula

Eyad al-Hallaq corria mas não era culpado

era na cozinha aluno da nobre arte da mesa,

não era inimigo, não era culpado, era palestiniano.

Todos os inimigos sob os nossos pés enterrados.

“Não os podemos deixar levantar a cabeça”, Tzahal.

 

Todos os homens que correm são culpados.

Olho por olho, dente por dente,

olho a mira desta mag, estou pronto.

Fugir é ter culpa, não obedecer é ter culpa.

Todos os caminhos estão bloqueados.

Tão só o trauma, alivia o tormento de quebrar o silêncio

ou acidente na saliência da memória.

 

Este é muro que relembra um espelho

a cicatriz encoberta, que enquadra a paisagem,

circunscreve a água, invade e cerca a casa,

um labirinto, um gueto ou o apartheid.

 André Luís Alves

 Nasceu em 1987 em Lisboa. Mestre em Engenharia Física pelo IST. Trabalhou em investigação no CERN, Suíça e em Telecomunicações em Lisboa e Roma. Em 2017, deixou o seu trabalho e decidiu ser repórter. Viveu na Ucrânia, Inglaterra e Itália, e viajou pelo Senegal, Marrocos, Turquia e Irão. Publica poesia desde 2015, em várias revistas sobretudo na Apócrifa. Trabalha como fotojornalista freelance para o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF Freelance Photojournalism

 

Sem comentários: