CONSCIENTEMENTE VIVO
Com a minha angústia
coletiva
que o lúcido olhar o
mundo
faz nascer e avoluma dia
a dia
conscientemente vivo.
Poeta proibido
do jogo da beleza das
palavras
porque elas se
transformam
em claros sinais de luta
e de esperança
que são dever da própria
poesia.
Cidadão de todas as
pátrias
Em cada uma choro, odeio,
canto o rio.
Choro a escravidão, a
miséria, a violência,
as vítimas diárias que
não conheço
mas tão próximas na raiva
e no pranto.
Odeio os anti-homens
construtores de guerras,
semeadores da morte,
racistas, exploradores
dos outros homens,
ladrões da liberdade
nos cinco continentes.
Canto o rio
quando os homens-humanos
são mais donos do cosmos
em pacíficas naves
vogando ao infinito
e hora a hora mais se
dignificam,
quando os povos se
libertam
e os carrascos fogem ou
perecem,
e as aves cantam,
e as flores vibram,
e as florestas executam sinfonias,
e os céus e os mares em
mais verde e mais azul se espelham
e a beleza da terra renasce
em nossos olhos,
quando, enfim, a vida se
ressurge natural
e milhões de coisas belas
acontecem.
Para além do terror
atómico
conscientemente vivo
a minha esperança
coletiva
na solidária paz
universal
que acontecerá um dia que
não verei
mas que hoje já inteiro
represento
poeta sem raça nem
fronteiras.
In,
o diário 25-5-86 “CULTURAL”
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