Chora, Ó Negro Irmão Bem-Amado
Ó Negro, gado humano desde há milénios
As tuas cinzas espalham-se a todos os ventos do céu
E construíste outrora os templos funerários
Onde dormem os carrascos num sono eterno
Perseguido e cercado, expulso das tuas aldeias
Vencido em batalhas onde a lei do mais forte,
Nestes séculos bárbaros de rapto e carnificina,
Significava para ti a escravatura ou a morte,
Refugiaste-te nestas florestas profundas
Onde a outra morte espreitava sob a sua máscara febril
Nos dentes do felino, ou no abraço imundo
e frio da serpente, esmagando-te pouco a pouco.
E depois veio o Branco, mais dissimulado, astucioso e rapace
Que trocava o teu ouro por pacotilha
Violentando as tuas mulheres, embriagando os teus guerreiros,
Recolhendo nos seus navios os teus filhos e filhas
O tantã
vibrava de aldeia em aldeia
Levando ao longe o luto, semeando a aflição
Anunciando a grande partida para margens longínquas
Onde o algodão é Deus e o dólar Rei
Condenado ao trabalho forçado, como um animal de carga
Da alva ao crepúsculo sob um sol de fogo
Para te fazer esquecer que eras um homem
Ensinaram-te a cantar os louvores de Deus.
E esses diversos cânticos, ritmando o teu calvário
Davam-te esperança num mundo melhor…
Mas no teu coração de criatura humana, não pedias mais
Que o teu direito à vida e ao teu quinhão de felicidade.
Sentado ao pé do fogo, com os olhos cheios de sonho e de angústia
Cantando melopeias que traduziam a tua tristeza
Por vezes também alegre, quando a seiva subia
Dançavas, perdido, no orvalho da noite.
E foi daí que jorrou, magnífica,
Sensual e viril como uma voz de bronze
Nascida da tua dor, a tua poderosa música,
O jazz, hoje admirado no mundo
Obrigando o homem branco a respeitar-te
Dizendo-lhe em voz alta que doravante,
Este país já não é dele como nos velhos tempos.
Permitiste assim aos teus irmãos de raça
Levantar a cabeça e olhar de frente
O futuro feliz que a libertação promete.
As margens do grande rio, plenas de promessas
São doravante tuas.
Esta terra e todas as suas riquezas
São doravante tuas.
E lá no alto, o sol de fogo num céu sem cor,
Com o seu calor abafará a tua dor
Os seus raios ardentes secarão para sempre
A lágrima que os teus antepassados verteram,
Martirizados pelos seus amos tirânicos,
Neste solo que tu amarás sempre.
E farás do Congo uma nação livre e feliz,
No centro desta gigantesca África Negra.
Patrice Lumumba
[poema publicado, pela primeira vez, em Setembro de 1959, no jornal INDEPENDANCE, órgão do Movimento Nacional Congolês (M.N.C.), partido que Lumumba passou a liderar a partir de Outubro de 1958. O poema foi reproduzido em La pensée politique de Patrice LUMUMBA, textes et documents recueillis par Jean VAN LIERDE, Présence Africaine, 1963, pp. 6970 e em Patrice Lumumba, a colectânea de textos apresentada por Georges Nzongola Ntalaja, CETIM, 2013, pp. 3133, de onde foi retirado para esta tradução e publicação.] (CULTURA-Jornal angolano de Artes & Letras)
Ó Negro, gado humano desde há milénios
As tuas cinzas espalham-se a todos os ventos do céu
E construíste outrora os templos funerários
Onde dormem os carrascos num sono eterno
Perseguido e cercado, expulso das tuas aldeias
Vencido em batalhas onde a lei do mais forte,
Nestes séculos bárbaros de rapto e carnificina,
Significava para ti a escravatura ou a morte,
Refugiaste-te nestas florestas profundas
Onde a outra morte espreitava sob a sua máscara febril
Nos dentes do felino, ou no abraço imundo
e frio da serpente, esmagando-te pouco a pouco.
E depois veio o Branco, mais dissimulado, astucioso e rapace
Que trocava o teu ouro por pacotilha
Violentando as tuas mulheres, embriagando os teus guerreiros,
Recolhendo nos seus navios os teus filhos e filhas
O tantã
vibrava de aldeia em aldeia
Levando ao longe o luto, semeando a aflição
Anunciando a grande partida para margens longínquas
Onde o algodão é Deus e o dólar Rei
Condenado ao trabalho forçado, como um animal de carga
Da alva ao crepúsculo sob um sol de fogo
Para te fazer esquecer que eras um homem
Ensinaram-te a cantar os louvores de Deus.
E esses diversos cânticos, ritmando o teu calvário
Davam-te esperança num mundo melhor…
Mas no teu coração de criatura humana, não pedias mais
Que o teu direito à vida e ao teu quinhão de felicidade.
Sentado ao pé do fogo, com os olhos cheios de sonho e de angústia
Cantando melopeias que traduziam a tua tristeza
Por vezes também alegre, quando a seiva subia
Dançavas, perdido, no orvalho da noite.
E foi daí que jorrou, magnífica,
Sensual e viril como uma voz de bronze
Nascida da tua dor, a tua poderosa música,
O jazz, hoje admirado no mundo
Obrigando o homem branco a respeitar-te
Dizendo-lhe em voz alta que doravante,
Este país já não é dele como nos velhos tempos.
Permitiste assim aos teus irmãos de raça
Levantar a cabeça e olhar de frente
O futuro feliz que a libertação promete.
As margens do grande rio, plenas de promessas
São doravante tuas.
Esta terra e todas as suas riquezas
São doravante tuas.
E lá no alto, o sol de fogo num céu sem cor,
Com o seu calor abafará a tua dor
Os seus raios ardentes secarão para sempre
A lágrima que os teus antepassados verteram,
Martirizados pelos seus amos tirânicos,
Neste solo que tu amarás sempre.
E farás do Congo uma nação livre e feliz,
No centro desta gigantesca África Negra.
Patrice Lumumba
[poema publicado, pela primeira vez, em Setembro de 1959, no jornal INDEPENDANCE, órgão do Movimento Nacional Congolês (M.N.C.), partido que Lumumba passou a liderar a partir de Outubro de 1958. O poema foi reproduzido em La pensée politique de Patrice LUMUMBA, textes et documents recueillis par Jean VAN LIERDE, Présence Africaine, 1963, pp. 6970 e em Patrice Lumumba, a colectânea de textos apresentada por Georges Nzongola Ntalaja, CETIM, 2013, pp. 3133, de onde foi retirado para esta tradução e publicação.] (CULTURA-Jornal angolano de Artes & Letras)
« Pleur, Ô Noir
frère bien-aimé»
« O Noir,
bétail humain depuis des millénaires
Tes cendres s’éparpillent à
tous les vents du ciel
Et tu bâtis
jadis les temples funéraires
Où dorment les bourreaux d’un
sommeil
éternel.
Poursuivi et
traqué, chassé de tes villages,
Vaincu en des batailles où la
loi du plus fort,
En ces
siècles barbares de rapt et de carnage,
Signifiait
pour toi l’esclavage ou la mort,
Tu t’étais
réfugié en ces forêts profondes
Où l’autre mort guet
tait sous son masque fiévreux
Sous la dent
du félin, ou dans l’étreinte immonde
Et froide du
serpent, t’écrasant peu à peu.
Et puis s’en vint le Blanc,
plus sournois, plus rusé et rapace
Qui échangeait ton or pour de
la pacotille,
Violentant tes femmes,
enivrant tes guerriers,
Parquant en
ses vaisseaux tes garçons et tes filles.
Le tam
-tam bourdonnait de village en
village
Portant au loin le deuil,
semant le désarroi,
Disant le grand départ pour
les lointains rivages
Où le coton est Dieu et le
dollar Roi
Condamné au
travail forcé, tel une bête de somme
De l’aube au
crépuscule sous le soleil de feu
Pour te
faire oublier que tu étais un homme
On t’apprit
à chanter les louanges de Dieu.
Et ces
divers cantiques, en rythmant ton calvaire
Te donnaient
l’espoir e
n un monde
meilleur...
Mais en ton
cœur de créature humaine, tu ne demandais guère
Que ton
droit à la vie et ta part de bonheur.
Assis autour
du feu, les yeux pleins de rêve et d’angoisse
Chantant des mélopées qui
disaient ton cafard
Parfois
joyeux aussi, l
orsque
montait la sève
Tu dansais,
éperdu, dans la moiteur du soir.
Et c’est là que jaillit,
magnifique,
Sensuelle et virile comme une
voix d’airain
Issue de ta
douleur, ta puissante musique,
Le jazz, aujourd’hui admiré
dans le monde
En forçant le respect de
l’homme blanc,
En lui disant tout haut que
dorénavant,
Ce pays n’est plus le sien,
comme aux vieux temps
Tu as permis
ainsi à tes frères de race
De relever
la tête et de regarder en face
L’avenir
heureux que promet la délivrance.
Les rives du
grand
fleuve,
pleins de promesses
Sont désormais tiennes.
Présentation des textes
Cette terre et toutes ses
richesses
Sont désormais tiennes.
Et là haut, le soleil de feu
dans un ciel sans couleur,
De sa chaleur étouffera ta
douleur
Ses rayons brûlants sècheront
pour toujours
La larme
qu’on(t)
coulé(e) tes ancêtres,
Martyrisés
par leurs tyranniques maîtres,
Sur ce sol
que tu chéris toujours.
Et tu feras
du Congo, une nation libre et heureuse,
Au centre de
cette gigantesque Afrique Noire.»
« Pleur, Ô Noir frère bien-aimé»
Ce texte (JV Lierde 1963: 69
-70) d’une valeur on ne peut plus histo-rique et littérairer est publié par le
Journal Indépendance, organe du
Mouvement National Congolais,
en septembre 1959. Il est un poème
fouillé et inspiré par les
émeutes du 4 janvier 1959 à Léopoldville. Tout
en retraçant l’histoire du
peuple noir, Lumumba l’encourage à une
détermination et à une vision
de construire son avenir.
1 comentário:
Um dia se fará luz
será dia
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