segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

A paisagem cambiante - Jacques Prèvert

 

A paisagem cambiante

 

Das duas coisas a lua

a outra é o sol

os pobres os trabalhadores não vêem essas coisas

o sol deles é a sede o pó o suor o alcatrão

e quando trabalham ao sol o trabalho esconde-lhes o sol

o sol deles é a insolação

e o luar para trabalhadores noturnos

é a bronquite a farmácia as preocupações as chatices

e quando o trabalhador adormece é embalado pela insónia

e quando o seu despertador o acorda

encontra sempre aos pés da cama

a carranca do trabalho

que escarnece e zomba dele

então ele levanta-se

então ele lava-se

e sai para a rua semiacordado

caminha na rua semiacordado semiadormecido

e apanha o carro operário

e o carro operário o condutor o revisor

e todos os trabalhadores semiacordados semiadormecidos

atravessam a paisagem petrificada entre a noite e a madrugada

a paisagem de tijolo de janelas sem vidros de becos

a paisagem eclipse

a paisagem prisão

a paisagem sem ar sem luz sem risos nem estações do ano

a paisagem gelada dos bairros operários gelados tanto em pleno verão como em pleno inverno

a paisagem triste

a paisagem vazia

a paisagem explorada aviltada engolida escamoteada

a paisagem carvão

a paisagem pó

a paisagem óleo

a paisagem escória

a paisagem castrada apagada mutilada degradada e atirada para a sombra

para a grande sombra

a sombra do capital

a sombra do lucro

Nessa paisagem por vezes brilha um astro

um único

o falso sol

o sol baço

o sol escondido

sol cão do capital

o velho sol de cobre

o velho clarão

o velho sol cibório

o velho sol fístula

o odioso sol do rei sol

o sol de Austerlitz

o sol de Verdun

o sol ídolo

o sol tricolor e incolor

o astro das catástrofes

o estro da pulhice

o astro da matança

o astro da estupidez

o sol morto.


E a paisagem semiconstruída semidemolida

semiacordada semiadormecida

desaba na guerra na desgraça e no esquecimento

e depois recomeça passada a guerra

reconstrói-se a si mesma na sombra

e o capital sorri

mas um dia há-de vir o verdadeiro sol

um verdadeiro sol quente e forte que despertará a paisagem entorpecida

e os trabalhadores sairão para a rua

e então verão o sol

o verdadeiro o violento e vermelho sol da revolução

e eles contar-se-ão

e compreender-se-ão

e verão o seu número

e olharão a sombra

e rirão

e avançarão

pela última vez o capital quererá impedi-los de rir

eles matá-lo-ão

e enterrá-lo-ão sob a paisagem da miséria

e a paisagem da miséria dos lucros da poeira e do carvão

e queimarão

e arrasarão

a paisagem de miséria de lucro de pó e de carvão

e cantando construirão

uma paisagem nova e bela

uma verdadeira paisagem viva

farão muitas coisas com o sol

e transformarão mesmo o inverno em primavera.

Jacques Prèvert

Le paysage changeur

De deux choses lune
l’autre c’est le soleil
les pauvres les travailleurs ne voient pas ces choses
leur soleil c’est la soif la poussière la sueur le goudron
et s’ils travaillent en plein soleil le travail leur cache le soleil
leur soleil c’est l’insolation
et le clair de lune pour les travailleurs de nuit
c’est la bronchite la pharmacie les emmerdements les ennuis
et quand le travailleur s’endort il est bercé par l’insomnie
et quand son réveil le réveille
il trouve chaque jour devant son lit
la sale gueule du travail
qui ricane qui se fout de lui
alors il se lève
alors il se lave
et puis il sort à moitié éveillé à moitié endormi
il marche dans la rue à moitié éveillée à moitié endormie
et il prend l’autobus
le service ouvrier
et l’autobus le chauffeur le receveur
et tous les travailleurs à moitié réveillés à moitié endormis
traversent le passage figé entre le petit jour et la nuit
le paysage de briques de fenêtres à courants d’air de corridors
le paysage éclipse
le paysage prison
le paysage sans air sans lumière sans rires ni saisons
le paysage glacé des cités ouvrières glacées en plein été comme au cœur de l’hiver
le paysage éteint
le paysage sans rien
le paysage exploité affamé dévoré escamoté
le paysage charbon
le paysage poussière
le paysage cambouis
le paysage mâchefer
le paysage châtré gommé effacé relégué et rejeté dans l’ombre
dans la grande ombre
l’ombre du capital
l’ombre du profit.
Sur ce paysage parfois un astre luit
un seul
le faux soleil
le soleil blême
le soleil couché
le soleil chien du capital
le vieux soleil de cuivre
le vieux soleil clairon
le vieux soleil ciboire
le vieux soleil fistule
le dégoûtant soleil du roi soleil
le soleil d’Austerlitz
le soleil de Verdun
le soleil fétiche
le soleil tricolore et incolore
l’astre des désastres
l’astre de la vacherie
l’astre de la tuerie
l’astre de la connerie
le soleil mort.

Et le paysage à moitié construit à moitié démoli
à moitié réveillé à moitié endormi
s’effondre dans la guerre le malheur et l’oubli
et puis il recommence une fois la guerre finie
il se rebâtit lui-même dans l’ombre
et le capital sourit
mais un jour le vrai soleil viendra
un vrai soleil dur qui réveillera le paysage trop mou
et les travailleurs sortiront
ils verront alors le soleil
le vrai le dur le rouge soleil de la révolution
et ils se compteront
et ils se comprendront
et ils verront leur nombre
et ils regarderont l’ombre
et ils riront
et ils s’avanceront
une dernière fois le capital voudra les empêcher de rire
ils le tueront
et ils l’enterreront dans la terre sous le paysage de misère
et le paysage de misère de profits de poussières et de charbon
ils le brûleront
ils le raseront
et ils en fabriqueront un autre en chantant
un paysage tout nouveau tout beau
un vrai paysage tout vivant
ils feront beaucoup de choses avec le soleil
et même ils changeront l’hiver en printemps.

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