domingo, 5 de setembro de 2021

erro de sintaxe - Cláudia R Sampaio

 

erro de sintaxe

 

De comunicação não percebo nada

gosto é de genocídios de palavras

de caçar coelhos só com sílabas

disparar sobre tudo

apenas com uma junção de letras

até ficar sozinha, só eu

e a minha incompreensão

que nunca é a dos outros, que

usam sempre outra sintaxe.

 

Não sou capaz é de silêncio

não dá lucro, não faz viver

o silêncio incorpora sempre

uns braços cruzados, uma desistência

pendurada na língua

um ar de lesma muda, sem opinião

e eu até posso perder

mas aos pulos, de socos no ar

montada num canhão de bandeira

hasteada a disparar a minha sintaxe

não a dos outros, que é deles

não quero nada que não me pertença, nunca quis

e das poucas coisas que tenho

é o que me sai da boca

que mesmo que já mastigado

não me deixa a barriga vazia.

 

 

Se não me faço entender

é porque nem sempre é fácil admitir que

sou a primeira a render-me

tantas vezes que nem aqui estou

que nunca sei quando venho

tantas vezes não quero desistir

que nem chego ao começo

já sei que é uma ousadia querer compreensão

de nada serve,

cada um tem uma, muito própria

e a subjectividade é inabalável

 

Seriam precisos infinitos livros para

me exprimir, para chegar por palavras

à compreensão, à minha.

Mas mesmo assim,

nunca seria a dos outros.

 

Cláudia R Sampaio

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