domingo, 13 de janeiro de 2013

AQUI - Armando Silva Carvalho

AQUI

Aqui o inferno mata as profissões 
Que têm acesso ao ar.
Diz-se que deus se absteve 
De criar servidores para os condenados 
Ao tédio. 
 
Morre-se no emprego 
Com a garganta apertada por uma mão 
Sem ossos. 
 
Aqui os anos crescem pouco ou nada. 
Os dias e dias secam na raiz. 
Nãohoras felizes. 
 
O sol sempre se deu bem com gente como esta 
Que salpica de chuva os seus pequenos 
Afazeres 
Para ficar em casa. 
 
Gente com plenos poderes 
Para desmanchar a festa que se alonga 
Para  da cabeça. 
 
Diz um: eu sou o sábio de domingo. 
Agora não me ocupo de dias úteis, de remendos d’alma, 
De fragilidades. 
Esperem por mim mas  depois 
Da missa. 
 
Diz outro: a ética é grega de nascença 
Movemo-nos por números,  sentenciava Pitágoras. 
Não cunhamos moeda, não sujamos as mãos 
Nos improvisados remos do naufrágio. 
O nosso destino é perguntar. 
 
Parece que deus quis que não nascesse a obra. 
Nascer que nasça o sol 
E é bastante. 
Quem pergunta ao sonho pelo homem 
De serviço? 
 
Nos campos vicejam novamente as urtigas 
São restauros agrícolas, 
Exemplos a seguir, ordens vindas de cima, 
Ao ouvido, 
Na sala dos banquetes. 
 
O mar faz de cão velho e deixa-se ficar 
À espera no patamar dos mitos. 
Ninguém o suporta 
Nem ao seu uivar aos pés 
Da história. 
 
Comovidos estamos, com um não sei quê, 
Um quanto, um como, uma dor 
Que levanta asas 
E vai do vale à montanha 
Como vão os monges cavaleiros 
À televisão. 
 
Aqui a cidade abre-se para  da noite 
E é sempre belo ver a madrugada 
A chorar os seus ídolos. 
 
Aqui os que têm coração 
Têm desconto. 
Armando Silva Carvalho

Sem comentários: