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ELOGIO DA SOLIDÃO - josé alberto de oliveira
ELOGIO DA SOLIDÃO
Uma casa para estrear e descobrir
em quantas salas se acomoda
a solidão.
Cozinhou o jantar e come atentamente
como todos quantos dividem a comida em silêncio:
o náufrago, o mendigo, o oleiro na lancheira.
Coze o seu barro, um jeito de partir o pão
que deve ao tempo uma
lentidão coalhada.
O ruído do vizinho não o incomoda.
Nenhuma fala ou resíduo humano leveda
uma página ao acaso. Pode decidir beber mais vinho
ou inaugurar a leitura de outro livro.
Mesmo sair para beber café e mastigar o frio.
No pasto, a chuva rega a placidez do boi;
abana a cabeça, fumegam as narinas,
desenha-se num fundo de pinhal que o vento
castiga; na caruma molhada pressente-se
o rumor de um cão absorto na ilusão
do que procura. Coisas mínimas, irrisórias,
vão salvar o resto da noite de presumir felicidade.
Lá fora a cidade está cercada na convicção
das suas vidas perdoáveis, mercando
um alimento longamente dispensável
- a respiração em vitualhas e sarcasmos,
a pobreza irresignável e irresolúvel,
o cansaço de não estar só e não querer estar.
josé alberto
de oliveira
por alguns dias
assírio & alvim
1992
1 comentário:
Caro amigo José Alberto
Gostei do que vi. Temos poesias muito diferentes. A sua é de paz e enche a alma. A minha é de amor, mais para a carne do que para a cabeça.
Deixo-lhe aqui uma amostra
Viagem
Leva-me contigo
para onde quer que vás.
Não me importam os caminhos
nem os locais de paragem.
Tentarei que nem me sintas.
Até posso caminhar de olhos fechados
e em silêncio total.
Apenas quero seguir a mesma aragem
que te ateia esse desejo de partir
e de viver sempre em viagem.
Um dia vais voltar.
Se eu for contigo
Já não terei de te esperar.
IL
Quisera descansar no teu abraço
ao cair da tarde
quando a luz nos incendeia,
antes de vermos nascer estrelas
ou termos a lua só para nós como candeia.
O cair da tarde é o nosso tempo,
o nosso espaço,
a terra prometida,
o paraíso,
o lugar onde o cansaço
existe apenas porque em nós existe vida.
É porque essa vida dentro de nós arde
que eu quisera descansar no teu abraço
um dia destes, um qualquer,
não me interessa,
desde que aconteça sempre ao cair da tarde.
IL
Um abraço Isabel Lago (imlb@sapo.pt)
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