quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O TEMOR E O ORGULHO - Ambrose Bierce



O TEMOR E O ORGULHO
- Bom-dia, amigo – disse o Temor ao Orgulhoentão que tal se sente esta manhã?
- Muito cansado – respondeu o Orgulho, sentando-se à beira da estrada, e enxugando a testa coberta de suor. – Os políticos extenuam-me, à força de se servirem de mim para exporem as suas ignóbeis acusações, quando podiam, muito bem, recorrer a um cacete.

E o Temor respondeu, soltando um suspiro de simpatia:

- Pois eu estou numa situação bastante igual à sua. Em vez de utilizarem uns binóculos, é por meu intermédio que observam os actos dos seus adversários.

E iam os dois resignados escravos juntar as lágrimas, quando lhes chegou ordem de retomarem o serviço, porque um dos partidos políticos acabava de eleger um gatuno para seu chefe, e preparava-se para celebrar uma reunião comemorativa do acontecimento.
 Ambrose Bierce


(de Fábulas Fantásticas,
 tradução de João da Fonseca Amaral,
 editorial Estampa, 1971)

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