domingo, 11 de agosto de 2019

O meu preço - José Craveirinha

O meu preço
Eu cidadão anónimo
do País que mais amo sem dizer o nome
se é para me dar de corpo e alma
dou-me todo como daquela vez em Chaimite.
Dou-me em troca de mil crianças felizes
nenhum velho a pedir esmola
uma escola em cada bairro
salário justo nas oficinas
filas de camiões carregados de hortaliças
um exército de operários todos com serviço
um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias
e ao vento da minha terra uma grande bandeira sem quinas.

Se é para me dar

dou-me de graça por conta disso.

Mas se é para me vender

vendo-me mas vendo-me muito caro.
em "Cela 1". Maputo: INLD, 1980, p. 43.

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