Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!...
Foi certamente inspirado neste poema de Mário de Sá-Carneiro que o poeta e jornalista angolano Ernesto Lara Filho (1932–1977) escreveu o seguinte:
QUANDO EU MORRER
(para o Aniceto Vieira Dias e "Liceu" de "N'Gola Ritmos")
Quando eu morrer eu quero que o N'Gola Ritmos vá tocar no meu enterro.
Como Sidney Bechet como Armstrong eu gostarei de saber
que vocês tocaram no meu enterro.
Lá no céu também há "angelitos negros" e eu gostarei de saber que vocês me tocaram no enterro.
Se não puder ser deixem lá tocarão noutro lado qualquer com lágrimas nos olhos como naquela noite em casa do Araújo lembrarão o companheiro das noites de Luanda das noites de boémia das tardes de moamba.
Ah! Quando eu morrer já sabem quero que o meu caixão vá no maxibombo da linha do Cemitério quero que toquem a Cidralha ou convidem a marcha dos Invejados.
É assim que eu quero ir acompanhado da vossa alegria bebedeiras seguindo o enterro as velhas carpideiras de panos escuros quero um kombaritókué dos antigos que vai ser muito falado.
Não convidem mulatas que sempre estragam tudo Se vierem não lhes vou rejeitar. Cantem apenas alguns dos meus poemas até enrouquecer.
Ah! quando eu morrer eu quero o N´Gola Ritmos tocando no meu enterro.
Ernesto Lara Filho (1932–1977)
TENTATIVA DE GLOSSÁRIO
N'Gola Ritmos — conjunto musical angolano, liderado por Aniceto e "Liceu" Vieira Dias, que reabilitou e dignificou a música popular de Luanda
Moamba — prato típico da culinária angolana, habitualmente de galinha
Maxibombo — autocarro
Cidralha — nome de uma música tradicional do carnaval de Luanda
Marcha dos Invejados — nome de um grupo carnavalesco de Luanda
Kombaritókuè — (literalmente, "varrer as cinzas") tradição luandense que marca o fim do período de choro de um morto após o seu enterro, equivalente à missa do sétimo dia na tradição católica; funeral
1 comentário:
Foi certamente inspirado neste poema de Mário de Sá-Carneiro que o poeta e jornalista angolano Ernesto Lara Filho (1932–1977) escreveu o seguinte:
QUANDO EU MORRER
(para o Aniceto Vieira Dias e "Liceu" de "N'Gola Ritmos")
Quando eu morrer
eu quero que o N'Gola Ritmos
vá tocar no meu enterro.
Como Sidney Bechet
como Armstrong
eu gostarei de saber
que vocês
tocaram no meu enterro.
Lá no céu também há "angelitos negros"
e eu gostarei de saber
que vocês
me tocaram no enterro.
Se não puder ser
deixem lá
tocarão noutro lado qualquer
com lágrimas nos olhos
como naquela noite
em casa do Araújo
lembrarão o companheiro
das noites de Luanda
das noites de boémia
das tardes de moamba.
Ah! Quando eu morrer
já sabem
quero que o meu caixão
vá no maxibombo da linha do Cemitério
quero que toquem
a Cidralha
ou convidem a marcha dos Invejados.
É assim que eu quero ir
acompanhado da vossa alegria
bebedeiras seguindo o enterro
as velhas carpideiras de panos escuros
quero um kombaritókué dos antigos
que vai ser muito falado.
Não convidem mulatas
que sempre estragam tudo
Se vierem
não lhes vou rejeitar.
Cantem apenas
alguns dos meus poemas
até enrouquecer.
Ah! quando eu morrer
eu quero o N´Gola Ritmos
tocando no meu enterro.
Ernesto Lara Filho (1932–1977)
TENTATIVA DE GLOSSÁRIO
N'Gola Ritmos — conjunto musical angolano, liderado por Aniceto e "Liceu" Vieira Dias, que reabilitou e dignificou a música popular de Luanda
Moamba — prato típico da culinária angolana, habitualmente de galinha
Maxibombo — autocarro
Cidralha — nome de uma música tradicional do carnaval de Luanda
Marcha dos Invejados — nome de um grupo carnavalesco de Luanda
Kombaritókuè — (literalmente, "varrer as cinzas") tradição luandense que marca o fim do período de choro de um morto após o seu enterro, equivalente à missa do sétimo dia na tradição católica; funeral
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