26 de junho: Dia Internacional de Luta Contra a Tortura
O operário
da utopia
Apanhado em meio à noite,
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jogado ao chão da cela,
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o corpo nu conhece
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a primeira humilhação.
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Outras virão: o soco,
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o choque, a ameaça,
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o urro na escuridão.
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— Quantos volts
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suporta um corpo
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— em coação,
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até que dele escorra o fel
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da delação?
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— O que procura o tortura/dor
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nas pedras do rim alheio
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como vil minera/dor?
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— O que ama esse ama/dor
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da morte?
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esse morcego suga/dor
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sob os porões da corte?
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esse joga/dor
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do jogo bruto
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e cria/dor
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do luto?
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O tortura/dor se sente, e acaso o é,
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um trabalha/dor diferente:
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seu trabalho é destruir
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o sonha/dor insistente,
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como o médico que resolvesse
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matar de dor
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— o cliente.
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Mas sob a tortura
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o que há de melhor no homem
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jamais se manifesta. Quando muito
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podeis catar no chão
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o pouco que dele resta.
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Mas soltai-o em festa, ao sol,
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e vereis que a verdade
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de seus gestos se irradia.
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Livre
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vestindo a pele do dia
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o torturado caminha
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com seu corpo tatuado
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de violência e poesia.
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Mas ele não marcha só.
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Apenas segue na frente
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na direção da utopia.
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