«Posto Móvel»
Os
operários da escolha desesperada
em
magotes entram na cidade
pela via
circular, de mala aviada
e trouxas feitas no
desemprego e no abandono
de vales
e serras. Pilares de húmus
homens do
leme do antigo arado
atravessam
o meu cérebro na errada
direcção, como um vento a
rasgar.
Um
pintor, que não de andaime, um poeta,
que não
das letras, captam esse tornado
de
desfeitos lares mas ainda não sabem
uma
linguagem com que fixá-los:
na
eventualidade de sobreviverem. Rápida
e fugidia
é aqui a vida, como pólen levada
de pedra
em pedra na esquina urbana,
que se espera árdua e
deseja leve.
Os
operários da escolha desesperada
em longas
filas aguardam uma refeição
quente, a
pensão de falsa invalidez, a metadona,
vestuário
usado embebido no perfume
da
usurura e no grito bipolar do tédio. Assobio,
apesar de
tudo, na ausência de um propósito
deste meu
governo e na falta de escrúpulo
e na exigência de
voluntária servidão.
Um
pintor, um poeta, também eles na eventual
sobrevivência,
aposta já - derradeiro trunfo
de casino
- seu fracasso, sua má sorte:
palavras,
sinais, sílabas caídas em saco roto.
(…)
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